CULTURA

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USOS E TRADIÇÕES

A identidade cultural de uma coletividade é caracterizada, indelevelmente, pelos seus usos e costumes, por valores e ofícios que entroncam, em larga medida, em modos de vida mormente agrários, por uma literatura oral, rica em simbologias, que reflete o imaginário popular.

A dinâmica da civilização urbana tende a deixar cair no esquecimento todo este património, entregue à indiferença e ao desconhecimento e progressivamente tragado pela voragem do tempo.

Ciente da urgência de contrariar esta realidade, a Extensão Educativa/Educação de Adultos de Condeixa-a-Nova, criada em 1990, tem-se empenhado com afinco na recolha e preservação de todos os elementos que contribuem para a definição das raízes culturais do concelho, perpetuando a memória coletiva.

Alminhas

As alminhas consubstanciam uma forma de religiosidade popular de matriz cristã mas que não deixa de evocar remotos cultos pagãos. A determinação da sua origem não é consensual, porquanto alguns tendam a associá-las aos Lares Viales e Lares Compitales romanos, encarando-as como uma herança atávica dessas formas de culto, outros estudiosos recusam liminarmente esta posição, defendendo que a sua origem deve ser equacionada à luz da ação da Contrarreforma tridentina, que revitalizou o culto das almas, numa estratégia de defesa da conceção do Purgatório, profundamente abalada pelas ofensivas protestantes.

Sob a forma de monólitos de pedra, enquadradas por modestas construções de cimento ou engastadas em paredes e muros, a presença das alminhas no concelho de Condeixa-a-Nova1, sobretudo no espaço rural, é uma constante; a sua localização em ermos ou no interior de povoações ocorre preferencialmente em encruzilhadas ou situações de fronteira, facto este que, longe de registar uma coincidência, reveste um significado mais profundo.

Com efeito, a configuração cruciforme ou a noção de fronteira pressupõem o intersetar ou a contiguidade de dois caminhos, encontrando esta realidade física correspondência num plano espiritual. Enquanto figurações simbólicas das almas no purgatório — encruzilhada entre a vida e a morte, fronteira entre o Céu e o Inferno — as alminhas assumem-se como mediadoras entre o terreno e o extraterreno. A devoção que lhes é dedicada sugere uma cumplicidade entre vivos e mortos e a diluição da fronteira entre os dois mundos: por um lado, a alminha solicita ao crente a oração e o alumiar da lamparina, capazes de resgatar as almas do seu penar; em troca, ilumina o caminho do crente, exercendo uma proteção tutelar. As inscrições que mais frequentemente acompanham as alminhas são, a este título, significativas: "Ó vós que aqui vindes/ tão descuidados de nós/ lembrai-vos das nossas almas /que nós nos lembramos de vós” (sugerindo essa “bilateralidade contratual”) ou "Ó vós que ides passando/Lembrai-vos das almas/ que estão penando", lembrando, ao homem, a sua transitoriedade.

O alcance da sua mensagem integra-se, pois, num registo de espiritualidade que sobrepõe a lógica da fé à razão especulativa e a que não é de todo alheia uma certa superstição.

1 Vide, a propósito: ABREU, Fernando e MIRANDA, Rui, Alminhas do Concelho de Condeixa-a-Nova – Levantamento Fotográfico, Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova, 2001.

Literatura Oral Lenda dos Ferreiros (Zambujal)

Viviam no cimo de cada um dos montes — o Melo e o Gerumelo — dois irmãos, ferreiros de ofício, que tinham o mesmo nome dos montes em que se haviam instalado, não fora o caso de serem antes os montes a tomarem o nome dos dois alentados gigantes. Cada um em sua forja, trabalhava o ferro com os seus instrumentos. Porém, não possuíam mais do que um martelo comum, de que se serviam alternadamente. Quando o Gerumelo precisava do martelo, chegava à porta da forja e gritava ao Melo, para este lho atirar, e vice-versa. Isto repetia-se de todas as vezes que trabalhavam. Só a força de gigantes podia arremessar o martelo, a tão grande distância.

Ora um dia houve em que o Gerumelo se zangou com o companheiro e, quando o irmão lhe pediu o martelo, arremessou-lho com tamanha violência e mau humor que ele se desencabou no ar. A maça de ferro foi cair no sopé do monte Melo e logo ali rebentou uma fonte de água férrea – a Fartosa (antes, a Ferretosa). Quanto ao cabo, que era de madeira de zambujo, precipitou-se mais longe, enraizou e deu origem a um bosque de zambujeiros, onde posteriormente se veio a formar a aldeia que tem, hoje, o nome de Zambujal.

Tradições

A Páscoa assinala indubitavelmente um dos momentos mais importantes do calendário litúrgico. E no rastreio das tradições do concelho de Condeixa-a-Nova1, em que tantas perderam já a força da sua mensagem, é justamente no período pascal e quaresmal que se filiam ainda as tradições de maior vitalidade.

Assim, logo após a folia e os excessos do Carnaval, principia a Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas, estendendo-se durante sete semanas de celebração penitencial até à Páscoa. O Canto das Almas, tradição que ainda se preserva na Eira Pedrinha, integra-se justamente na reflexão sobre a condição humana que a Quaresma pretende instaurar: “Lembra-te, ó Homem, que és pó e ao pó hás de voltar”. Dois grupos de homens percorrem durante alguns domingos deste período as ruas da freguesia, entoando quadras em que ecoa a religiosidade popular, com o propósito de recolher esmolas para, ao longo de todo o ano, encomendar missas pelas almas dos defuntos.

Por seu turno, a Função dos Passos (vulgarmente designada como Festa dos Passos) visa a representação da caminhada de Jesus até ao Calvário, em consonância com o relato bíblico. Esta função é precedida pela procissão das velas, que tem lugar na véspera, na qual o badalar do sino e a música triste e compassada de uma banda filarmónica criam o ambiente e a solenidade que este momento exige. No dia seguinte, realiza-se então a procissão, que sai da capela do Palácio Sotto Mayor, na qual a Verónica canta o “Miserere Mei” em sete pontos de um percurso (passos), especialmente preparados para o efeito; segue-se-lhe o sermão do encontro, com as imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora da Soledade, procedendo de ruas diferentes, a convergirem no mesmo espaço. Por fim, e já na Igreja, perante a reunião de todos, é feito o sermão do Calvário.

A Festa do Senhor dos Passos reveste-se de grande importância, na vila de Condeixa-a-Nova, envolvendo a participação de um largo número de fiéis e servindo de pretexto para se juntarem, à mesma mesa, familiares e amigos, a fim de saborearem o tradicional cabrito.

A Semana Santa, que antecede o Domingo de Páscoa, impõe-se como o período de maior ressonância religiosa da Quaresma. É justamente na Sexta-Feira Santa que, ao anoitecer, se faz o Enterro do Senhor na freguesia da Ega, com uma procissão que percorre a rua principal. Aos cânticos da Verónica sucede, já na Igreja, o Sermão pregado a partir do púlpito, ao mesmo tempo que se procede ao enterro do Senhor, envolto em panos pretos, num sepulcro engastado no altar. A celebração termina com um cântico alusivo à morte do Senhor, enquanto todos beijam os véus que lhe envolveram o corpo durante o cortejo fúnebre.

1 Para um conhecimento mais aprofundado das tradições do concelho de Condeixa-a-Nova vide: PESSOA, Maria de Fátima Bandeira e GRILO, Maria do Rosário, Do Carnaval à Páscoa, 1995.

OFÍCIOS TRADICIONAIS

Alfaiates, Cabouqueiro de mós, Moleiros, Tecedeiras e Sapateiros.
Alfaiate

ALFAIATE

Manejando com destreza a fita métrica e fazendo bom uso da sua matemática e larga experiência, Fausto vai talhando, num tecido informe, um par de calças, certificando-se a cada marca das medidas do cliente. Há depois que cortar e alinhavar, fazer as provas, desmanchar e ajustar, até se conseguir a peça final; tratando-se de fato completo, o trabalho, já se sabe, estende-se por cerca de três dias.

Filho de alfaiate, Fausto foi iniciado no ofício aos onze anos; em Traveira, onde reside e tem instalada a sua modesta oficina, e um pouco por todo o concelho, são muitos aqueles que já lhe fizeram encomendas. Mas mais do que nunca ressente-se o ofício tradicional em termos de procura e este alfaiate, apesar da boa disposição que o acompanha, apercebe-se, desgostoso, do rumo que se vai traçando e das linhas frágeis com que se cose o futuro desta atividade.

Moleiro

MOLEIRO

Instigado pela água, o chiar da mó que labuta pacientemente na moagem do cereal confunde-se com a voz de Albino Simões que vai explicando, a espaços breves, porque persiste no ofício de moleiro. Cresceu ouvindo a cantilena ininterrupta das mós – descende de uma família de moleiros do Avenal e foi dela que recebeu não só o próprio engenho, como também o saber-fazer.

Mas poucos há que saibam e queiram aprender esta arte. Até mesmo porque a tradição e a prosperidade da pequena indústria moageira são águas passadas e agora, afora alguns padeiros da região, já só uma modesta freguesia procura o milho partido para a criação ou a fina farinha para a broa.

Tecedeira

TECEDEIRA

Em quarto estreito, de janela recortando a rua, uma lâmpada dependurada do teto faz as vezes do sol que, dissolvendo lá fora a geada que a noite deixou, não ousa passar além do friso. Aqui se tecem os dias de D. Celeste, numa desavença teimosa com o tear que lhe vai esmoendo o linho, a par da vista, que a saúde também se consome por entre a trama, como o fio que pende da meada.

Terra de muita tradição do tear, a Bendafé! E a cada volte de lançadeira, recorda com sentida saudade as tecedeiras que enchiam a terra, ocupando-se dos enxovais das mulheres casadoiras. Única representante de uma longa tradição familiar, D. Celeste lamenta-se do abandono a que foi votada a arte a que se entregou com tanto afinco, colhendo embora no trabalho áspero, solitário, moroso, e invariavelmente mal remunerado, as razões que levaram as mulheres a empregar-se em unidades fabris de indústria têxtil, onde a segurança do salário e o convívio proporcionam outro modo de vida.

Sapateiro

SAPATEIRO

Em Bruscos, António Pedro conservou todos os segredos do ofício de sapateiro. Mas as formas, penduradas, diziam muito de uma atividade, também ela suspensa; é que a arte que desde cedo tomou do pai e que lhe garantiu o sustento durante largos anos passou a conhecer tempos difíceis.

Ainda assim, este sapateiro abriu a porta da sua pequena oficina, a par das suas memórias… lembrou as encomendas que se sucediam, os dias cheios de serviço e o processo manual de fabrico de um par de sapatos que lhe tomava um dia inteiro. Hoje, a produção em série nas fábricas de calçado satisfaz toda a procura e faz perigar este ofício de poucos mestres e já sem aprendizes.

Cabouqueiro de Mós

Cabouqueiro de mós

De tradição arreigada, a exploração de mós de calcário1 constituiu até meados do século XX, em Condeixa-a-Velha, uma atividade dominante e de inegável peso económico, chegando a absorver, em média, cerca de metade da população da aldeia, entre cabouqueiros e mulheres e crianças que, na impossibilidade de manejarem o picão com a força e destreza de um homem, encontraram, na limpeza do cascalho das pedreiras e na magreza do salário, a mesma dureza do trabalho.

O ofício de cabouqueiro requeria um saber-fazer transmitido de geração em geração. A seleção do bloco grosseiro, de acordo com as características do trabalho pretendido, a marcação do contorno circular da peça, os cortes vertical e horizontal e a abertura do olho – onde encaixaria o eixo – constituíam as principais fases do processo de produção de uma mó, que se arrastava normalmente por três dias. A eventual presença de fissuras na mó deitava por terra todo este esforço, pelo que só o desembaraço na utilização das ferramentas de cantaria e o conhecimento da pedra trabalhada poderiam reduzir a probabilidade de fracionamento da peça.

O potencial geológico de Condeixa-a-Velha, com recursos abundantes de pedra calcária de qualidade, favoreceu indubitavelmente o desenvolvimento da atividade extrativa; mas a prosperidade desta indústria artesanal – a que já em 1758 se fazia referência, aludindo-se à exportação do seu produto para todo o reino e até mesmo para fora dele – só pode ser cabalmente compreendida mediante a consideração de outros fatores, como sejam a abundância da produção cerealífera local e a presença deveras significativa de moinhos, mercê da prodigalidade aquífera e ventosa da zona. As mós não ofereciam, pois, quaisquer problemas de comercialização; as encomendas sucediam-se e, dada a forte procura, o produto escoava-se com facilidade.

A década de 60 do século passado veio contudo assinalar o início do declínio da indústria de produção de mós, devido, muito possivelmente, ao desenvolvimento industrial registado no país; e o último cabouqueiro de Condeixa-a-Velha, já desaparecido, levou consigo o segredo de uma arte de tradições seculares. Mas as marcas desse passado, ainda bem visíveis, estão inscritas na idiossincrasia dos habitantes de Condeixa-a-Velha, bem como na própria fisionomia da aldeia onde, a par de diversas pedreiras, se encontram, a todo o momento, as mós que a indústria moageira enjeitou, utilizadas em fins decorativos e utilitários.

1 Vide, a este propósito, PESSOA, Miguel e RODRIGO, Lino, «Cabouqueiros de mós em Condeixa-a-Velha», separata do I Encontro nacional Sobre o Património Industrial (Actas e Comunicações), vol. II, Coimbra, 1990. Aqui se analisa, com pormenor, a atividade de extração de mós através do percurso de Manuel Pita, o último cabouqueiro de mós em Condeixa-a-Velha.

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