As Sete Partidas do Mundo

Fernando Gonçalves Namora (1919-1989) nasceu em Condeixa a 15 de Abril, na casa hoje transformada em Casa Museu, onde se acha reconstituído o seu escritório e se conservam muitos dos seus objetos pessoais. Foi de facto aqui que viveu até aos dez anos de idade, em estreito contacto com a natureza, descobrindo as artes e os ofícios locais, iniciando-se no gosto pelas letras e pela pintura.
Estudante de Medicina em Coimbra, participa ativamente na vida académica e cultural, sendo dessa fase as suas primeiras edições como poeta e romancista e o lançamento da revista Altitude (1939). Enquanto representante da Geração de 40, integra a tertúlia à Rua do Loureiro – atual Casa da Escrita –, grupo literário que reuniu nomes como João José Cochofel, Joaquim Namorado ou Carlos de Oliveira, entre outros, sob a influência do ideário que respondia aos anseios de liberdade e justiça social. É nesse contexto que, em 1941, inaugura com Terra, a coleção de poesia do Novo Cancioneiro, que vem assinalar o advento do Neorrealismo. Ou, em 1943, lança Fogo na Noite Escura, na coleção «Novos Prosadores», romance que pode ser visto como o retrato de uma geração.
Concluído o curso abre consultório em Condeixa, mas o destino levá-lo-á a exercer clínica na Beira Interior (substância de Retalhos da Vida de um Médico) e no Alentejo, em Pavia. Experiência que se prolongaria até 1951, quando integra o quadro do Instituto Português de Oncologia, em Lisboa – no qual permanece até optar por dedicar-se exclusivamente à escrita. As páginas de Fernando Namora são indissociáveis das transformações da época em que viveu, estando nelas refletidas as suas múltiplas vocações e experiências. Com uma ampla produção literária, reuniu géneros tão diversos como o romance ou a poesia, a novela ou a biografia, com destaque para as narrativas dos cadernos de um escritor. Alguns dos seus livros foram adaptados ao cinema e traduzidos em diversas línguas.
Bibliografia sumária:
CARVALHO, Paulo Archer (coord.), Pois não te resta ainda o mundo? - Conferências Fernando Namora, Condeixa-a-Nova, Casa Museu Fernando Namora/Câmara Municipal de Condeixa, 2015.
CARVALHO, Teresa, 55 Vidas e Obras de Grandes Autores Portugueses, Sociedade Portuguesa de Autores, 2012.
MENDES, José Manuel; PITA, António Pedro; JACINTO, Rui; MENDES, Carla, Desassossego e Magnitude. Itinerários de Fernando Namora, Coimbra, Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova/Comissão de Coordenação da Região Centro, 2004.
O perfil da personalidade mais carismática da história de Condeixa1 desenha-se entre a figura extraordinária de cabeleira leonina, porte hercúleo e de veio erudito e a proximidade natural e afável com o povo. Entre a bonomia, a alegria contagiante, a gargalhada pronta e tonitruante e a luta afincada e nem sempre risonha pela prosperidade cultural e material da terra. Entre uma generosidade sem limites, a que não estorvava a míngua de recursos, e a riqueza do exemplo e do legado deixados. Entre o homem e a obra.
João Augusto Antunes nasce em Coimbra, em 1863. O relativo desafogo económico dos pais possibilita-lhe uma formação superior: conclui o curso de Teologia, obtém ordenação sacerdotal e prossegue estudos na faculdade de Direito. Vem para Condeixa, na qualidade de Conservador do Registo Predial, e exerce funções religiosas enquanto coadjutor do pároco da vila e capelão da casa Ramalho.
Detentor de uma cultura excecional, dedicado à pintura e, acima de tudo, musicólogo de reconhecido mérito, converteu operários e trabalhadores rurais da terra em cantores, constituindo o primeiro orfeão popular do país. A primeira audição do assim designado Orfeão dos Trabalhadores e Artistas de Condeixa teve lugar na Igreja Matriz de Condeixa-a-Nova, em 1903, a que se seguiram inúmeras apresentações por todo o país que colheram rasgados elogios da crítica.
Preocupado com a orientação profissional dos jovens do concelho (na sua maioria desprovidos de qualquer instrução) e desejoso de despertar talentos artísticos desconhecidos, instituiu uma Escola de Desenho Industrial que, em larga medida, custeava.
A alcunha de "Padre-Boi", com que ficou popularizado, adveio-lhe da compleição física avantajada e de um apetite voraz; são muitos os episódios caricatos sobre a sua gula impenitente, que terá mesmo motivado a sua aproximação ao rei D. Carlos, numa visita deste a Condeixa. O monarca que, para além dos interesses gastronómicos, rapidamente encontrou outras afinidades com o douto João Antunes, veio a distingui-lo, mais tarde, com a nomeação de Capelão da Casa Real.
Apesar de profundamente devoto, o seu modo de vida algo boémio e a prole numerosa que sempre assumiu (prova inequívoca dos seus deslizes profanos) suscitaram conturbação na Igreja, tendo-lhe valido diversas admoestações do Bispo.
A morte sobreveio em 1931, pondo termo a uma vida de entrega à comunidade que lhe granjeou a admiração, o respeito e a saudade de quantos o conheceram e de quantos, ainda hoje, se reveem na sua obra.
1 Cf. SANTOS, M. Rodrigues, Padre-Boi não é Lenda – Esboço Biográfico do P. Dr. João A. Antunes, Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova, 1990.
Natural de Condeixa, Simão da Cunha d'Eça Azevedo (1831 - 1919) cursou Medicina na Universidade de Coimbra e cedo lhe foram reconhecidos os seus créditos como médico. Não obstante, o apego à terra e as lides políticas tê-lo-ão conduzido à presidência da Câmara Municipal, durante o período de 1866-68.
Espírito abnegado e altruísta, notabilizou-se sobremaneira pela ação social desenvolvida em prol da vila. Legou a sua biblioteca pessoal (aproximadamente dois mil volumes) à autarquia, a fim de que se constituísse uma Biblioteca Municipal. Instituiu também por testamento a Câmara Municipal de Condeixa como sua herdeira universal, devendo esta obrigar-se ao cumprimento de certas determinações; designadamente, o testamento previa a fundação de um hospital municipal que servisse as gentes necessitadas do concelho: o Hospital Dona Ana Laboreiro d'Eça, em memória de sua esposa. Incitava ainda a Câmara «a lançar os fundamentos de uma casa de Santa Misericórdia», consciente, no entanto, de que seria necessário que outros lhe seguissem os passos para dar prossecução a uma obra tão louvável quanto necessária.
O município homenageou o Dr. Simão da Cunha atribuindo o seu nome à rua onde se situa o antigo hospital da vila e cuja frontaria conserva ainda os brasões de armas da sua família.
Ensaísta, crítico, conferencista, professor, ator, encenador e acima de tudo, ou antes de mais, admirador confesso da arte teatral, Manuel Deniz-Jacinto dedicou toda uma vida ao Teatro e nunca escondeu a sua predileção pela obra de Gil Vicente, a que consagrou vários estudos.
Tendo nascido em 1915, em Condeixa-a-Nova, Deniz-Jacinto frequentou a Universidade de Coimbra, de 1933 a 1943, onde concluiu as licenciaturas em Ciências Matemáticas e em Engenharia Geográfica, tendo completado ainda o curso de Ciências Pedagógicas. O seu trajeto universitário foi pautado por uma atividade académica intensa e a todos os títulos notável: desde Presidente do Orfeon Académico de Coimbra a Presidente da Associação Académica, muitos foram os cargos que desempenhou; mas seria, sobretudo, a sua atividade no TEUC (Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra) que, além da aprendizagem que lhe proporcionou, lhe traria maior reconhecimento.
Anos mais tarde, ao fixar-se na cidade do Porto, veio a integrar o TEP (Teatro Experimental do Porto), tendo sido diretor da Escola de Teatro dessa instituição, onde lecionou as disciplinas de História do Teatro e Arte de Dizer.
Ao longo de um percurso em que trabalhou afincadamente para o enriquecimento do Teatro em Portugal, Deniz-Jacinto encarnou personagens vicentinas (o Diabo do Auto da Barca do Inferno foi, sem dúvida, a mais marcante), prefaciou e traduziu várias peças, dedicou-se à crítica teatral; emprestou a sua colaboração a revistas e a outras publicações culturais e participou em inúmeros colóquios, conferências, palestras e mesas-redondas; a publicação, em 1991, de três volumes que reúnem a sua obra, surge como corolário dessa carreira.
Antifascista convicto, as suas posições ideológicas e a militância política viriam a trazer-lhe alguns dissabores, tendo enfrentado duas condenações da PIDE e cumprido pena no Aljube e em Caxias 1.
Em 1988 foi distinguido, pelo então Presidente da República, Dr. Mário Soares, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, que assinalava a sua intervenção no campo cultural bem como a sua postura de defesa dos valores democráticos.
Em homenagem a esta figura, a Câmara Municipal de Condeixa instituiu, em 2015, o Prémio Deniz-Jacinto, destinado a galardoar as melhores obras de dramaturgia e ensaio sobre teatro, num estímulo à criação literária e ao aparecimento de novos autores nacionais.
1 Cf. SILVA, Paulo Jorge Marques, Deniz - Jacinto – Entre Duas Paixões: O Teatro e a Liberdade, Câmara Municipal de Condeixa, 2015.
Artur da Conceição Barreto, comerciante e industrial bem-sucedido, foi uma outra figura benemérita a que a história de Condeixa não pode deixar de fazer referência.
Muito jovem, rumou à capital onde conheceu todas as dificuldades do ofício de marçano. Personalidade determinada, vingou no mundo dos negócios, construindo uma avultada fortuna com base nas suas capacidades e no trabalho árduo que desenvolveu.
Tendo vindo a falecer em 1925, beneficiou em testamento o Hospital D. Ana Laboreiro d'Eça (a par de outras casas de caridade em Lisboa), dando continuidade à obra de Simão da Cunha e assegurando, por conseguinte, a sobrevivência desta instituição.
O Largo Artur Barreto, onde se situa atualmente o edifício da Câmara Municipal de Condeixa (e que em tempos fora sua propriedade), assinala a homenagem do município a esta figura.
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